sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O que é um Cristão? 11/12 Responsabilidades corporativas (Completo)

Responsabilidades corporativas

No entanto, como há responsabilidades individuais, também há responsabilidades corporativas; pois o cristão não é apenas salvo e filho de Deus, mas também faz parte de uma assembleia, sociedade ou corpo, que se chama Igreja de Deus. Vendo que o Senhor Jesus morreu para que pudesse reunir em Um os filhos de Deus que estavam dispersos (João 11:52), não podemos agir de forma independente, sem pecar. Muitos nos dizem que a Igreja de Deus é invisível, mas você não encontrará nada sobre uma Igreja invisível nas Escrituras. Pelo contrário, a Igreja é sempre algo visível nas Escrituras; pois antes de Cristo morrer, os filhos de Deus estavam espalhados, isto é, invisíveis; mas Cristo morreu para acabar com esse estado de coisas e para fazer da Igreja a única testemunha visível de Si mesmo na terra; a Igreja deveria ser a luz do mundo; e como uma cidade situada em uma colina que não pode ser escondida. Uma testemunha invisível, uma luz invisível, uma cidade invisível, é uma contradição em termos, e se a Igreja está invisível, ela apenas demonstra quão completamente falhou em seu propósito, e quão verdadeiramente ela está (na medida em que foi entregue sob responsabilidade do homem) em um estado de ruína total. Lemos, "os apóstolos foram para os seus (para sua própria companhia)", "dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles", "se introduziram furtivamente alguns (homens)", "falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram". Agora, os homens não podem se juntar a uma coisa invisível, nem os enganadores podem se infiltrar em uma coisa invisível. Foi dito aos discípulos: “Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Romanos 15:7); e, novamente, "Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo" (I Coríntios 5:13). Ora, nenhum homem, ou grupo de homens, pode receber ou retirar de uma coisa invisível. O Apóstolo escreveu cartas para a Igreja de Corinto, etc. Ora, cartas não podem ser escritas para o que é invisível. Em seus dias, havia uma companhia conhecida chamada Igreja em Corinto, que fazia parte e tinha em todos os aspectos as mesmas regras de toda a Igreja de Deus. Em I Coríntios 5:12, é falado sobre um "dentro" e "fora"; porque aqueles de dentro eram um grupo definitivamente conhecido reunido dentre (para fora de) os pagãos, e todos eles eram tratados como santos, pessoas perdoadas e filhos de Deus; poderia haver, e sem dúvida havia, hipócritas e falsos professos aqui e ali entre eles; mas isso não afetava o caráter geral da assembleia, como uma assembleia de Deus.

Como está tudo tão diferente agora. Agora temos as enormes mas corrompidas igrejas de Roma e Grécia, nas quais a igreja é o mundo e o mundo é a igreja; nós temos sistemas nacionais, que vão contra Deus (pois Ele fez uma Igreja a partir dos crentes de todas as nações), eles unem os crentes e não crentes de uma nação em um sistema nacional comum; e também temos sistemas voluntários de várias denominações, nos quais os crentes, e às vezes muitos descrentes, são unidos por acordo voluntário. Além disso, temos sociedades, cujo nome e propósito é legião, para todas as coisas concebíveis debaixo do sol. Ah! Onde é que em tudo isto há o menor reconhecimento da Igreja ou Assembleia de Deus? Onde há uma assembleia na qual há lugar para cada crente, que procura caminhar em santidade, ao mesmo tempo que não há lugar para ninguém a não ser para os filhos de Deus (embora seja possível, é claro, que os hipócritas possam entrar acidentalmente)? Onde há uma assembleia onde a palavra de Deus é a única regra, em vez de ter um conjunto de regras mais ou menos selecionadas da Bíblia? Onde está a presença do Espírito de Deus, de tal forma que Ele não é sistematicamente extinto, mas tem liberdade para agir em adoração e oração por meio de quem Ele quiser? Onde estão aqueles que são somente reconhecidos como ministros, que são vistos como ministros por suas obras, em vez de ministros sendo aqueles ordenados por homens?

Infelizmente, temos andado em nossos próprios caminhos e seguido os mecanismos de nossos próprios corações em todas essas coisas. Nós nos rebelamos contra Deus, nosso Pai, e Cristo, nosso Senhor, e rejeitamos deliberadamente o Espírito Santo, como os judeus da antiguidade rejeitaram o Messias. Quando Cristo estava no meio deles, eles ainda oravam para que o Messias viesse, e da mesma forma os crentes ainda oram pelo Espírito Santo, aparentemente sendo ignorantes quanto ao fato de que Ele veio no Pentecostes para habitar conosco para sempre e que, consequentemente, Ele ainda está aqui, embora Ele esteja terrivelmente entristecido por nossos pecados, embora esteja extinto por todos os lados, pelas regras e sistemas dos homens que fazem de um homem um porta-voz do Espírito Santo e proíbem todos os outros de abrirem a boca, ao menos sem permissão de homem. Assim o homem usurpa o lugar do Senhor; e pode-se dizer da Igreja de Deus, que desde a planta do pé até a cabeça não há coisa sã nela, mas chagas, hematomas e feridas putrefatas. E onde estão aqueles que suspiram e choram por todas essas abominações? Infelizmente, muitos pensam que enquanto as almas estejam sendo salvas, nada mais precisa ser inquietado, e o que é necessário para a salvação é geralmente chamado de essencial, enquanto que o que é para a glória de Deus é chamado de não essencial! Certamente o Senhor tem uma controvérsia conosco por isso, e deve ser uma fonte de grande fraqueza na Igreja, por cuja causa devemos ser profundamente exercitados. 

O Cristão, como vimos, faz parte da casa, habitação e templo de Deus, e também é um membro de Cristo: e como a habitação de Deus é santa, e Cristo é Filho sobre a Sua própria casa, somos então chamados a permanecer à parte de toda iniquidade, pois está escrito: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel [isto é, o descrente]? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (II Coríntios 6:14-18, 7:1). Até que o cristão, portanto, como parte do templo de Deus, se separe dos incrédulos, ele não terá o gozo da filiação.

Ah! A união de salvos e não salvos, em uma religião comum, é o pecado gritante da Cristandade. Os filhos de Deus devem ser unidos, mas a união às custas da verdade é pior do que inútil, e Deus não nos diz para buscar a unidade, mas para nos esforçarmos para manter a unidade do Espírito (Efésios 4:3). Cristo não orou meramente para que possamos ser um, mas para que possamos ser um no Pai e no Filho (João 17:21). Qualquer outra unidade e unicidade não é nada senão prejudicial, pois exclui dos olhos a única unidade e unicidade que Deus pode reconhecer.

O Cristão é um membro de Cristo; essa é a única "membresia" constituída nas Escrituras. Ah! Esse vínculo é posto de lado pelas sociedades e seitas formadas pelo homem. É como se um homem dissesse: as articulações do meu corpo não estão bem juntas, farei uma articulação melhor amarrando-as com um barbante. Iríamos pensar que esse homem é um lunático. Mas o que dizer então daqueles que pensam que com suas igrejas e sociedades irão unir mais proximamente aqueles a quem Deus fez um com Cristo e uns com os outros pelo Espírito Santo? O Cristão é, portanto, responsável por se separar de toda união, sociedade, igreja, etc. feita por homens, para que ele não tenha nada além do que o único corpo de Cristo. Isso é tão responsabilidade dele quanto do marido não conhecer outra mulher senão sua esposa. No entanto, ele não pode caminhar sozinho, porque é parte do corpo de Cristo e, portanto, deve ter essa união, embora se mantenha afastado das uniões dos homens. Sendo um membro de Cristo, como pode se tornar membro de associações de homens? Ao mesmo tempo, ele deve abominar a independência e a frouxidão daqueles que professam ser não sectários e, no entanto, vão a qualquer lugar e em qualquer lugar que lhes convenha; ou onde, como eles pensam, o bem está a ser feito. Ele não pode, portanto, pertencer a uma igreja mundial, ou a uma igreja nacional, ou a uma seita, mas procurar seguir a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor¹ e se empenhar em guardar com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor, a unidade do Espírito pelo vínculo da paz².

Uma vez que isso envolverá sair do arraial dos sistemas religiosos dos homens, implicará também em suportar o vitupério de Cristo (Hebreus 13:13). Ele será considerado tacanho, fanático, sectário, e será desprezado e odiado, mas desfrutará da companhia do Senhor Jesus de uma maneira que nunca poderá fazer dentro do arraial. Leitor, essa companhia é tão doce para você que está disposto a sofrer reprovação por ela? Como parte daquilo que é o corpo de Cristo, o cristão é responsável por se manter sem mancha do mundo. Nenhum pecado pode ser maior do que o de alguém, que professa fazer parte do corpo de Cristo, viver a fim de se glorificar e viver deliciosamente no mundo; veja o terrível julgamento sobre Babilônia, que diz em seu coração: "Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto" (Apocalipse 18:7). É uma coisa triste quando o Cristão busca glória no lugar onde seu Senhor não encontrou nada além de desonra e vergonha (veja I Coríntios 4:7-14). 

Não há espaço agora para entrarmos mais nas responsabilidades corporativas do Cristão como pertencente ao reino, do que dizer que, como tal, ele precisa se manter afastado da iniquidade prevalecente e se curvar somente à autoridade de Cristo. O Cristão desfruta de todos os privilégios do reino, e quão grandes eles são, podemos ver, comparando a Cristandade com o Paganismo. É isso que torna sua responsabilidade tão grande, e que tornará o julgamento dos iníquos tão terrível.


¹Nota do Tradutor: o autor está citando II Timóteo 2:22.
²Nota do Tradutor: o autor está citando Efésios 4:2-3.

Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe