sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O que é um Cristão? 12/12 Conclusão (Completo)

Conclusão

Resta agora dizer algumas palavras apenas para concluir. Este é apenas um esboço ligeiro e imperfeito. Mas se tiver apenas o efeito de fazer com que algum coração se volte para Cristo ao pensar nas maravilhosas bênçãos que nos são dadas livremente de Deus em Cristo Jesus; se apenas despertar alguma alma para um sentido mais profundo das responsabilidades que fluem da nova posição, bênçãos e privilégios do cristão, então não terá sido escrito em vão. Sem dúvida, algumas das coisas que foram ditas, parecerão estranhas para alguns dos leitores; mas deixe-me implorar que não rejeite o que está escrito porque é estranho. Somos ordenados a examinar todas as coisas (I Tesssalonicenses 5:21); e como podemos prová-las? A palavra de Deus é o único teste. Está escrito sobre os bereanos: "Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim" (Atos 17:11). O Apóstolo Paulo, ao deixar os discípulos em Éfeso, não tinha ninguém a quem os recomendasse, a não ser "a Deus e à palavra da sua graça" (Atos 20:32). O Apóstolo Pedro, da mesma maneira, não nomeia nenhum sucessor, mas escreve as suas Epístolas, para que tenhamos em mente as palavras, que foram ditas anteriormente pelos santos profetas, e os mandamentos dos Apóstolos do Senhor e Salvador. (II Pedro 3:1-2). O Apóstolo João diz: "Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro" (I João 4:6). De maneira semelhante, todos esses apóstolos nos falam dos erros que ocorriam "fora" ou estavam para entrar. O Apóstolo Paulo diz: "Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo coceira nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências; E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas" (II Timóteo 4:3-4). O Apóstolo Pedro avisa sobre os falsos mestres e fala sobre escarnecedores que virão (II Pedro 1-3). O Apóstolo João diz: "é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora" (I João 2:18); e, novamente: "Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai" (I João 2:24). E mais uma vez: "E o amor é este: Que andemos segundo os seus mandamentos. Este é o mandamento, como já desde o princípio ouvistes, que andeis nele" (II João 6). 

Deixe-me então suplicar-lhe, meu leitor, que examine seriamente a verdade de Deus por si mesmo, para que possa ver se estas coisas são assim. É melhor confiar no Deus vivo do que depositar qualquer confiança no homem. Os mansos Ele guiará no julgamento, os mansos Ele ensinará o Seu caminho. Não tenhais medo de confiar nEle totalmente e sem reservas; o caminho da fé é um caminho estranho, um caminho impossível para a carne e o sangue, para a visão e o sentido, e apenas possível no poder do Espírito de Deus; contudo, as pegadas do Senhor Jesus estão lá, e tereis a Sua companhia, e a doçura da Sua presença de uma maneira tal que aqueles que trilham os caminhos superados marcados pela teologia dos homens e pelos sistemas dos homens nunca saberão. Não acredite naqueles que dizem que a Bíblia é um livro difícil. É o livro enviado pelo Pai para Seus filhos; é muito simples, pois Ele conhece nossa estrutura e se revela a Si mesmo aos meninos. É verdade, claro, que existem inúmeras diferenças de doutrina por aí, mas a razão não é que a palavra de Deus não seja simples, mas sim devido ao orgulho e insubmissão do coração, o que faz com que muitos cheguem à palavra de Deus com opiniões preconcebidas, a fim de encontrarem o que querem, em vez de virem com a mais profunda submissão para ouvir o que Deus tem a dizer.

Deixe-me implorar que ponderes tudo na presença de Deus, e à luz da Sua verdade; e não a rejeite porque não é chamado de ortodoxo e nem que é sustentada por aqueles entre os quais você vive. Tudo o que é de Deus vale mais do que qualquer coisa; e quanto maior a dificuldade em ser fiel a ela, maiores serão as bênçãos para aqueles que a defendem e são valentes pela verdade. É bem verdade que a verdade de Deus pode causar separações nas famílias. Foi assim no tempo do Senhor; tem sido assim desde então, notavelmente na Reforma, e assim será agora; pois Cristo nos disse claramente que não veio trazer paz, mas espada; e que os inimigos de um homem serão os de sua própria casa (Mateus 10:34-36). É bem verdade que, por amor da verdade, os homens podem te odiar, te separar de suas companhias, te reprovar e rejeitar o teu nome como mau por causa de Cristo, mas grande será a tua recompensa no céu (Lucas 6:22-23). Não podemos servir a Deus e a Mamom. Se formos do mundo, então o mundo amará o que é seu; mas se não formos do mundo, o mundo nos odiará. Se quisermos a amizade do mundo, isso só pode acontecer ao custo de sermos culpados de adultério espiritual (Tiago 4:4). A palavra de Deus testará tudo naquele dia em que o Senhor trará à luz os conselhos do coração. Deixai-a testar tudo por você agora. Não diga "Posso fazer tudo o que não for proibido por ela". Não é assim, isso implicaria que você soubesse tudo que há nela, e tal forma de agir o levaria a muitos erros. O único caminho seguro é insistir em um "assim diz o Senhor" para tudo o que você fizer. Isso pode parecer moroso e tacanho neste afoito século XX¹; mas Cristo estará sempre com você, e a alegria do Senhor será a sua força. Cada prova e tristeza serão degraus para conduzi-lo a um conhecimento mais profundo de Cristo e de Seu amor. Deus colocará diante de você uma porta aberta e ninguém poderá fechá-la e, embora seu caminho for solitário aqui, pouco a pouco você não sairá mais, e a aprovação do Mestre soará indescritivelmente doce aos seus ouvidos e retribuirá você mil vezes por tudo que você poderá sofrer aqui. Que o Senhor, em Sua graça, conceda que possa realmente ser assim com você. 


¹Nota do Tradutor: Este livro foi escrito no início do século XX. Quão verdadeiras são essas palavras no século XXI!

Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe

O que é um Cristão? 11/12 Responsabilidades corporativas (Completo)

Responsabilidades corporativas

No entanto, como há responsabilidades individuais, também há responsabilidades corporativas; pois o cristão não é apenas salvo e filho de Deus, mas também faz parte de uma assembleia, sociedade ou corpo, que se chama Igreja de Deus. Vendo que o Senhor Jesus morreu para que pudesse reunir em Um os filhos de Deus que estavam dispersos (João 11:52), não podemos agir de forma independente, sem pecar. Muitos nos dizem que a Igreja de Deus é invisível, mas você não encontrará nada sobre uma Igreja invisível nas Escrituras. Pelo contrário, a Igreja é sempre algo visível nas Escrituras; pois antes de Cristo morrer, os filhos de Deus estavam espalhados, isto é, invisíveis; mas Cristo morreu para acabar com esse estado de coisas e para fazer da Igreja a única testemunha visível de Si mesmo na terra; a Igreja deveria ser a luz do mundo; e como uma cidade situada em uma colina que não pode ser escondida. Uma testemunha invisível, uma luz invisível, uma cidade invisível, é uma contradição em termos, e se a Igreja está invisível, ela apenas demonstra quão completamente falhou em seu propósito, e quão verdadeiramente ela está (na medida em que foi entregue sob responsabilidade do homem) em um estado de ruína total. Lemos, "os apóstolos foram para os seus (para sua própria companhia)", "dos outros, porém, ninguém ousava ajuntar-se a eles", "se introduziram furtivamente alguns (homens)", "falsos irmãos que se intrometeram, e secretamente entraram". Agora, os homens não podem se juntar a uma coisa invisível, nem os enganadores podem se infiltrar em uma coisa invisível. Foi dito aos discípulos: “Portanto recebei-vos uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (Romanos 15:7); e, novamente, "Tirai, pois, dentre vós a esse iníquo" (I Coríntios 5:13). Ora, nenhum homem, ou grupo de homens, pode receber ou retirar de uma coisa invisível. O Apóstolo escreveu cartas para a Igreja de Corinto, etc. Ora, cartas não podem ser escritas para o que é invisível. Em seus dias, havia uma companhia conhecida chamada Igreja em Corinto, que fazia parte e tinha em todos os aspectos as mesmas regras de toda a Igreja de Deus. Em I Coríntios 5:12, é falado sobre um "dentro" e "fora"; porque aqueles de dentro eram um grupo definitivamente conhecido reunido dentre (para fora de) os pagãos, e todos eles eram tratados como santos, pessoas perdoadas e filhos de Deus; poderia haver, e sem dúvida havia, hipócritas e falsos professos aqui e ali entre eles; mas isso não afetava o caráter geral da assembleia, como uma assembleia de Deus.

Como está tudo tão diferente agora. Agora temos as enormes mas corrompidas igrejas de Roma e Grécia, nas quais a igreja é o mundo e o mundo é a igreja; nós temos sistemas nacionais, que vão contra Deus (pois Ele fez uma Igreja a partir dos crentes de todas as nações), eles unem os crentes e não crentes de uma nação em um sistema nacional comum; e também temos sistemas voluntários de várias denominações, nos quais os crentes, e às vezes muitos descrentes, são unidos por acordo voluntário. Além disso, temos sociedades, cujo nome e propósito é legião, para todas as coisas concebíveis debaixo do sol. Ah! Onde é que em tudo isto há o menor reconhecimento da Igreja ou Assembleia de Deus? Onde há uma assembleia na qual há lugar para cada crente, que procura caminhar em santidade, ao mesmo tempo que não há lugar para ninguém a não ser para os filhos de Deus (embora seja possível, é claro, que os hipócritas possam entrar acidentalmente)? Onde há uma assembleia onde a palavra de Deus é a única regra, em vez de ter um conjunto de regras mais ou menos selecionadas da Bíblia? Onde está a presença do Espírito de Deus, de tal forma que Ele não é sistematicamente extinto, mas tem liberdade para agir em adoração e oração por meio de quem Ele quiser? Onde estão aqueles que são somente reconhecidos como ministros, que são vistos como ministros por suas obras, em vez de ministros sendo aqueles ordenados por homens?

Infelizmente, temos andado em nossos próprios caminhos e seguido os mecanismos de nossos próprios corações em todas essas coisas. Nós nos rebelamos contra Deus, nosso Pai, e Cristo, nosso Senhor, e rejeitamos deliberadamente o Espírito Santo, como os judeus da antiguidade rejeitaram o Messias. Quando Cristo estava no meio deles, eles ainda oravam para que o Messias viesse, e da mesma forma os crentes ainda oram pelo Espírito Santo, aparentemente sendo ignorantes quanto ao fato de que Ele veio no Pentecostes para habitar conosco para sempre e que, consequentemente, Ele ainda está aqui, embora Ele esteja terrivelmente entristecido por nossos pecados, embora esteja extinto por todos os lados, pelas regras e sistemas dos homens que fazem de um homem um porta-voz do Espírito Santo e proíbem todos os outros de abrirem a boca, ao menos sem permissão de homem. Assim o homem usurpa o lugar do Senhor; e pode-se dizer da Igreja de Deus, que desde a planta do pé até a cabeça não há coisa sã nela, mas chagas, hematomas e feridas putrefatas. E onde estão aqueles que suspiram e choram por todas essas abominações? Infelizmente, muitos pensam que enquanto as almas estejam sendo salvas, nada mais precisa ser inquietado, e o que é necessário para a salvação é geralmente chamado de essencial, enquanto que o que é para a glória de Deus é chamado de não essencial! Certamente o Senhor tem uma controvérsia conosco por isso, e deve ser uma fonte de grande fraqueza na Igreja, por cuja causa devemos ser profundamente exercitados. 

O Cristão, como vimos, faz parte da casa, habitação e templo de Deus, e também é um membro de Cristo: e como a habitação de Deus é santa, e Cristo é Filho sobre a Sua própria casa, somos então chamados a permanecer à parte de toda iniquidade, pois está escrito: "Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel [isto é, o descrente]? E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Por isso saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo, e eu vos receberei; E eu serei para vós Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso. Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (II Coríntios 6:14-18, 7:1). Até que o cristão, portanto, como parte do templo de Deus, se separe dos incrédulos, ele não terá o gozo da filiação.

Ah! A união de salvos e não salvos, em uma religião comum, é o pecado gritante da Cristandade. Os filhos de Deus devem ser unidos, mas a união às custas da verdade é pior do que inútil, e Deus não nos diz para buscar a unidade, mas para nos esforçarmos para manter a unidade do Espírito (Efésios 4:3). Cristo não orou meramente para que possamos ser um, mas para que possamos ser um no Pai e no Filho (João 17:21). Qualquer outra unidade e unicidade não é nada senão prejudicial, pois exclui dos olhos a única unidade e unicidade que Deus pode reconhecer.

O Cristão é um membro de Cristo; essa é a única "membresia" constituída nas Escrituras. Ah! Esse vínculo é posto de lado pelas sociedades e seitas formadas pelo homem. É como se um homem dissesse: as articulações do meu corpo não estão bem juntas, farei uma articulação melhor amarrando-as com um barbante. Iríamos pensar que esse homem é um lunático. Mas o que dizer então daqueles que pensam que com suas igrejas e sociedades irão unir mais proximamente aqueles a quem Deus fez um com Cristo e uns com os outros pelo Espírito Santo? O Cristão é, portanto, responsável por se separar de toda união, sociedade, igreja, etc. feita por homens, para que ele não tenha nada além do que o único corpo de Cristo. Isso é tão responsabilidade dele quanto do marido não conhecer outra mulher senão sua esposa. No entanto, ele não pode caminhar sozinho, porque é parte do corpo de Cristo e, portanto, deve ter essa união, embora se mantenha afastado das uniões dos homens. Sendo um membro de Cristo, como pode se tornar membro de associações de homens? Ao mesmo tempo, ele deve abominar a independência e a frouxidão daqueles que professam ser não sectários e, no entanto, vão a qualquer lugar e em qualquer lugar que lhes convenha; ou onde, como eles pensam, o bem está a ser feito. Ele não pode, portanto, pertencer a uma igreja mundial, ou a uma igreja nacional, ou a uma seita, mas procurar seguir a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor¹ e se empenhar em guardar com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando uns aos outros em amor, a unidade do Espírito pelo vínculo da paz².

Uma vez que isso envolverá sair do arraial dos sistemas religiosos dos homens, implicará também em suportar o vitupério de Cristo (Hebreus 13:13). Ele será considerado tacanho, fanático, sectário, e será desprezado e odiado, mas desfrutará da companhia do Senhor Jesus de uma maneira que nunca poderá fazer dentro do arraial. Leitor, essa companhia é tão doce para você que está disposto a sofrer reprovação por ela? Como parte daquilo que é o corpo de Cristo, o cristão é responsável por se manter sem mancha do mundo. Nenhum pecado pode ser maior do que o de alguém, que professa fazer parte do corpo de Cristo, viver a fim de se glorificar e viver deliciosamente no mundo; veja o terrível julgamento sobre Babilônia, que diz em seu coração: "Estou assentada como rainha, e não sou viúva, e não verei o pranto" (Apocalipse 18:7). É uma coisa triste quando o Cristão busca glória no lugar onde seu Senhor não encontrou nada além de desonra e vergonha (veja I Coríntios 4:7-14). 

Não há espaço agora para entrarmos mais nas responsabilidades corporativas do Cristão como pertencente ao reino, do que dizer que, como tal, ele precisa se manter afastado da iniquidade prevalecente e se curvar somente à autoridade de Cristo. O Cristão desfruta de todos os privilégios do reino, e quão grandes eles são, podemos ver, comparando a Cristandade com o Paganismo. É isso que torna sua responsabilidade tão grande, e que tornará o julgamento dos iníquos tão terrível.


¹Nota do Tradutor: o autor está citando II Timóteo 2:22.
²Nota do Tradutor: o autor está citando Efésios 4:2-3.

Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe

O que é um Cristão? 10/12 Responsabilidades individuais (Completo)

Responsabilidades individuais

Até agora, somente as bênçãos do cristão foram mencionadas, mas deve ser claramente entendido que todas as suas bênçãos têm suas consequentes responsabilidades. Como filho de Adão, sua responsabilidade era guardar a lei de Deus; neste terreno ele estava totalmente perdido. Mas, bendito seja Deus, Cristo veio buscar e salvar o que se havia perdido e, quando encontrado e salvo, aquele que estava perdido, é levado como um Cristão a uma posição completamente nova, e ele se tornou possuidor de todas as bênçãos de que falamos. Sua antiga responsabilidade como filho de Adão cessou, mas novas responsabilidades baseadas em sua nova posição, bênçãos, privilégios e relacionamento surgiram. Todas as posições e relacionamentos na vida natural têm suas responsabilidades concomitantes; assim, a esposa é responsável por agir como uma esposa, porque ela é uma esposa; o mestre como mestre, porque ele é assim; e o servo como servo, porque é servo. O mesmo com as coisas de Deus. A lei veio ao pecador, e disse-lhe para agir como se não fosse um pecador; mas a graça não age assim, a graça pega o pecador, e dando-lhe uma nova vida e posição, o leva a novos relacionamentos, antes mesmo de exigir (ou aceitar) qualquer coisa dele; mas depois diz a ele para agir de acordo com o que ele agora se tornou. A lei diz ao homem para agir de acordo com o que ele não é; mas a graça primeiro dá uma nova vida e um novo lugar, antes de falar em agir de acordo com isso. Assim, a lei espera algo não natural, ou seja, santidade vinda do pecador; mas a graça apenas espera que o Cristão aja de acordo com o que ele é, e isso é natural.

O Cristão é perdoado, justificado e salvo de si mesmo, do pecado, de Satanás e do mundo; ele é responsável, então, por agir como um homem perdoado, justificado e salvo. Ele é responsável por confessar a Cristo abertamente perante os homens, pois é tão verdade agora como sempre, que todo aquele que se envergonhar de Jesus e de Suas palavras nesta geração adúltera e pecadora, também dele o Filho do homem se envergonhará "quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos" (Marcos 8:38). Aquele que não confessa abertamente que Jesus, tendo o salvado, agora é seu Senhor, não tem o direito de esperar ser assumido como Cristão. Além disso, sendo um homem salvo, salvo de si mesmo, do pecado, de Satanás e do mundo, ele é responsável por não andar mais de acordo com a vontade da carne, mas de acordo com a vontade de Deus; pois qual seria a utilidade de um homem dizer "Estou salvo", se ele ainda está agindo de acordo com os pensamentos e desejos de seu próprio coração. Ele é apenas um homem que engana a si mesmo, pois "quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para a morte, ou da obediência para a justiça" (Romanos 6:16). O Cristão está morto para o pecado (veja Romanos 6:2-11, mas, infelizmente, quão poucos sabem o significado desta expressão!) e vivo para Deus. Uma nova e santa natureza foi implantada nele, e o Espírito de Deus está nele; ele é, portanto, responsável por andar em santidade e obediência. Isso era impossível enquanto ele estava sob a lei; mas agora é possível, pois a graça o tornou vivo com uma nova vida. 

O Cristão então nunca peca? Ele o faz, infelizmente! Pois ainda carrega consigo a velha natureza corrupta. Mas agora ele não tem necessidade de pecar, e, enquanto ele anda na dependência, considerando-se morto para o pecado e permanecendo em Cristo, ele não irá pecar. Entretanto, imediatamente quando ele deixa de ser dependente (e, infelizmente, é quando o orgulho entra!), ele peca.

A criatura não tem o direito de fazer a sua própria vontade em coisa alguma, e quando o Filho de Deus se fez homem e habitou entre nós, não foi para fazer a Sua própria vontade, mas a vontade dAquele que O enviou. Portanto, Ele era o modelo perfeito de tudo o que a criatura deveria ser. Agir em vontade própria é pecado, mas, infelizmente! Quão comum é para os Cristãos dizerem: "Há algum mal nisto ou naquilo?". Como a própria pergunta trai o coração, pois mostra que o questionador deseja agir de acordo com sua própria vontade, mas ele tem muito medo de fazê-lo. Ao Cristão é dito que, quer coma ou beba, ou o que quer que faça, deve fazer tudo para a glória de Deus (I Coríntios 10:31); e antes de fazer alguma coisa, ele deve ver, não se há mal nisso, ou não, mas que é para a glória de Deus.

Isso parece ser, meu leitor, servidão? Em caso afirmativo, tenha certeza de que é porque você não aprendeu que a verdadeira liberdade é para ser feito livre de tudo e de todos, para fazer a vontade de Deus somente; e qualquer outra coisa é servidão. A única verdadeira liberdade é encontrar prazer em fazer a vontade de Deus. Mas um homem pode dizer: "Como poderei eu conhecer a vontade de Deus?". Bem, "se alguém quiser fazer (ou seja, estiver disposto a fazer) a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus" (João 7:17).

Não há maneira de um coração indisposto aprender a vontade de Deus, mas se uma alma estiver apenas disposta, o Espírito Santo agindo por meio da palavra de Deus, mostrar-lhe-á sempre o caminho por onde deve andar. A palavra de Deus, conforme aplicada pelo Espírito, é a regra perfeita para todas as circunstâncias; e tenha a certeza de que, quando não sabemos o que fazer, não é porque Deus não nos mostra, mas porque os nossos corações não estão dispostos, e a única coisa a fazer é confessar isso como pecado a Deus. 

O Cristão está morto com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, como então ele pode estar sujeito ao "não toques, não proves, não manuseies" dos mandamentos dos homens? (Colossenses 2:20-23). Os homens, sábios segundo a sabedoria deste mundo, procuram educar a carne por esses meios; como testemunhamos observando as muitas sociedades de temperança, sociedades de pureza etc. em toda a parte; mas eles não têm entendido que estão apenas tentando o que o próprio Deus tentou por 1500 anos por meio da lei, e o resultado foi que aqueles a quem a lei foi dada foram piores do que os pagãos ao redor. Deus não fez isso para que Ele pudesse aprender o caráter da carne, mas para que isso pudesse ser manifestado a nós.

O Cristão é ressuscitado com Cristo; então, em vez de se rastejar no mundo e buscar as coisas boas do mundo como aqueles que são do mundo, que ele busque as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus; que sua mente se concentre nas coisas do alto, não nas coisas da terra.(Colossenses 3:1-4). Que ele tenha em mente que se ele tem a cabeça nas coisas terrenas, ele é um inimigo da cruz de Cristo (Filipenses 3:18-19). O Cristão está assentado nos lugares celestiais em Cristo Jesus (Efésios 2:6); ele está unido ao Senhor por um Espírito (1 Coríntios 6:17); ele é, portanto, responsável por caminhar por este mundo como um estrangeiro celestial. Ele não é colocado lá, como muitos pensam, para desfrutar dele; ele é colocado aqui para estar no mundo como Cristo estava. Assim como o Pai enviou Cristo, Ele nos envia ao mundo (João 17:18); de modo que estando nele, não somos dele; e, além disso, somos colocados aqui para testemunhar contra ele que suas obras são más (João 7:7). Ao mesmo tempo testificando da graça de Deus, que anseia pelos pecadores para que eles sejam salvos e desfrutem dos preciosos frutos da obra de Cristo.

Leitor, estás procurando caminhar como um homem celestial pelo mundo, e tua caminhada testifica ao mundo que suas obras são más? Ela aponta os pecadores para Aquele que é glorificado à destra de Deus? O Cristão recebeu o Espírito de Deus, ele é responsável por andar em Espírito (Gálatas 5:25), ouvindo Seu ensino e orientação, deixando que o Espírito tenha pleno domínio sobre sua mente e coração, não O entristecendo por independência e vontade própria, mas por meio do Espírito mortificando as obras do corpo (Romanos 8:13); para que o Espírito possa estar livre para tomar as coisas de Cristo e apresentá-las a Ele. O objetivo do Espírito é revelar-nos as belezas e a glória de Cristo, mas, imediatamente quando caminhamos em nossa vontade própria, Ele tem que parar essa obra para que possamos julgar-nos por causa da nossa obstinação; porque Ele não pode desdobrar as glórias de Cristo a uma criança obstinada. O Cristão é filho de Deus e é responsável por mostrar o caráter de seu Pai no mundo. Ele é chamado para ser como Cristo foi no mundo, a fazer o bem e sofrer por isso, a suportar a reprovação e o desprezo, e a amar e abençoar aqueles que agem erroneamente para com ele; de fato, ser o expoente do amor e da graça do Pai em um mundo que odeia Cristo e rejeita Cristo (Mateus 5:43-48I Pedro 2:19-25). O Cristão tem a vida eterna, ele foi feito participante daquela vida, que desde a eternidade estava com o Pai e se manifestou no Filho no mundo. Ele é responsável por demostrar essa vida, permanecendo no Filho e andando como Ele andou (1 João 2:6), em dependência e obediência, em graça e em verdade.

Mas pode ser perguntado: Quem é o suficiente para estas coisas? Como é que alguém pode andar desta maneira? Bem, tenha a certeza de que Deus não nos dará um padrão ou modelo inferior. O nosso padrão é o próprio Senhor Jesus Cristo, e nEle obtemos um padrão, que deleita o coração de Deus. Como então Ele andou? Ora, cada ação, cada palavra, cada pensamento dEle era perfeito; em nada Ele ficou aquém da glória de Deus, nem uma única palavra teve que ser redita; tudo, tudo era tão perfeito como Deus é perfeito. Que loucura, então, da parte destas pobres criaturas autoenganadas, que falam em alcançar a um estado de perfeição, de impecabilidade. Eles andam como Jesus andou? E se não, por que falar de impecabilidade? "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós" (I João 1:8). E o apóstolo Tiago diz da maneira mais positiva: "Porque todos tropeçamos em muitas coisas" (Tiago 3:2). Se este livro cair nas mãos de alguém que pensa ter alcançado isso, ou que está satisfeito em ouvir as pessoas falarem dessa conquista, deixe-o refletir sobre a declaração absoluta do Apóstolo, e que Deus possa abrir seus olhos para seu verdadeiro estado. Ao mesmo tempo, tenha cuidado com o erro abominável de dizer que o Cristão deve pecar. Deus fez a mais completa provisão para ele, para que não tenha necessidade de pecar, e quando peca, é porque escolhe pecar, e não porque precisa de o ter feito (veja I Coríntios 10:13 e Tiago 1:13-15). O cristão nunca está imune ao pecado; deve, portanto, confessar os seus pecados e reconhecer que eles foram cometidos por sua própria vontade.

Muitos pensam que Romanos 7 nos dá a experiência propriamente cristã e que todo Cristão a encontra como verdadeira para si mesmo, e deve dizer: "não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço". Mas esta não é, de forma alguma, a experiência propriamente cristã, é a experiência de um homem não libertado, ocupado consigo mesmo, debaixo da lei; em contraste com a experiência propriamente cristã, conforme é mostrado no oitavo capítulo dessa Epístola. Observe como no sétimo capítulo tudo é "eu, eu, eu"; enquanto no oitavo capítulo tudo é “o Espírito, o Espírito”. No sétimo capítulo, a alma não libertada está buscando com todas as suas forças guardar a lei, e tudo é só fracasso; no oitavo capítulo, a alma libertada aprendeu que o que a lei não poderia fazer Deus fez, a saber: que a sentença de condenação já foi passada ao velho homem, isto é, ao pecado na carne, e que o Cristão está diante de Deus em Cristo, não mais em Adão; e que o Espírito de Deus que sempre o direciona para Cristo é o poder de uma nova vida, de forma que ele não mais precisa ser derrotado, mas um vencedor.

Leitor, se sua experiência for a que é descrita em Romanos 7, tenha em mente que é a experiência de uma alma em escravidão e não libertada; e não tente se consolar com o pensamento de que isso é o que apenas se deve esperar. Infelizmente, tantos devem ficar satisfeitos com tal estado e estar cheios de si próprios, em vez de estarem cheios de Cristo. A atitude apropriada do Cristão é ocupar-se com Cristo em glória e ser transformado de glória em glória na mesma imagem, contemplando-O (II Coríntios 3:18).

Se, entretanto, o Cristão peca, ele perde sua filiação ou sua vida eterna? Ele tem deixado de ser o que a palavra de Deus chama de alma perdoada? Não mesmo; pois, como vimos antes, todas essas bênçãos são dadas a ele incondicionalmente e eternamente. O que ele tem perdido então? Bem, ele tem perdido sua alegria e sua comunhão, ou melhor, sua comunhão com o Pai e o Filho foi danificada. O Pai não dará a alegria da Sua companhia a um filho desobediente/levado, e, portanto, quando o pecado ocorre, diretamente a alegria vai embora até que o pecado seja julgado e confessado, mas o relacionamento permanece para sempre.

O único lugar onde o perdão é falado nas Epístolas, como necessário para o Cristão, é em 1 João 1:9, onde não é uma questão de salvação de forma alguma, mas de comunhão, e nos é dito que se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça. Ou seja, a alegria da comunhão não pode ser restaurada sem autojulgamento e confissão. E tenha em mente que a confissão do pecado é uma coisa muito mais profunda do que orar por perdão, que geralmente é feito, na verdade, sem nenhum exercício da alma; e quando Deus nos diz para confessar nossos pecados, Ele está dizendo isso mesmo, e não querendo dizer que devemos simplesmente pedir perdão. 

O relacionamento do Cristão como filho de Deus é eterno; sua vida eterna é realmente eterna; seu perdão quanto ao julgamento eterno de Deus também é realmente eterno. Mas, como vimos, ele precisa de perdão cotidiano para manter a comunhão com o Pai, e a maneira de conseguir isso é pela confissão de pecado ou de pecados cometidos. Todo pecado deve ser confessado a Deus. Se cometido individualmente, a confissão deve ser individual. Se cometido corporativamente, a confissão deve ser, se possível, tanto corporativa como individual. Se um homem, assim como Deus, for injustiçado, então deve ser feita a confissão (e restituição quando necessário) ao homem, bem como a Deus (Mateus 5:24). Mas tenha cuidado para não pedir perdão de pecados de maneira geral e confissões de pecado forma geral, pois não há maneira mais certa de amortecer a consciência e endurecer o coração. O diabo gosta muito de ouvir as pessoas se autodenominarem pecadores miseráveis ​​e fazerem confissões gerais, sabendo o quão bem isso serve ao seu propósito. O publicano disse: "Deus tenha misericórdia de mim, pecador", e desceu justificado para sua casa; mas, semanalmente, milhares se consideram pecadores miseráveis ​​de novo e de novo, mas não vão para suas casas justificados; e assim Satanás acalma as almas e as levam para o lado limpo do caminho largo para o inferno, dizendo-lhes o tempo todo que eles não são como o fariseu orgulhoso, mas humildes como o publicano.

Se, no entanto, o Cristão, quando peca, não confessa a Deus, mas prossegue no seu pecado, o que acontece? Bem, o Pai não pode rejeitá-lo, porque ele é Seu filho, e o Pai o deu a Cristo e, portanto, está empenhado em levá-lo para casa em segurança; pois "aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" (Romanos 8:30). Ele não pode, portanto, rejeitá-lo, mas, sendo um Deus santo, não pode permitir que prossiga em pecado. Portanto, Ele deve repreendê-lo aqui; "Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (I Coríntios 11:31-32). Se somos bastardos e não filhos, então podemos prosseguir aqui sem castigo, porque há o julgamento está para vir; mas se realmente somos filhos, então Ele deve tratar conosco agora, porque, como vimos antes, não entraremos em julgamento para salvação de forma alguma (veja Hebreus 12:5-11; e também João 5:24). 

Que ninguém pense que o pecado em um filho de Deus é uma coisa leve, ou que a correção do Senhor é leve; longe disso. O pecado em um filho de Deus é muito mais terrível do que o pecado no pecador, e não há angústia tão dolorosa na terra como a angústia de um filho verdadeiro, mas rebelde, quando a mão disciplinadora de Deus está quebrando sua vontade teimosa e rebelde. Leitor cristão, apresse-se em julgar a si mesmo para que o Pai amoroso não tenha que tomar Sua vara e castigá-lo. "E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela (Hebreus 12:11). Se, no entanto, meu leitor, você está vivendo descuidadamente, mas sem punição, então trema, pois você deve ser um bastardo e não um filho, e seu julgamento acontecerá no futuro, e você perecerá eternamente, a menos que você logo se converta. Mas leitor, se você é um verdadeiro Cristão e, ainda assim, é alguém que treme com as responsabilidades de sua nova posição, então ouça a voz de Deus dizendo a você: "Não temas"; o que é impossível aos homens é possível a Deus. Todo o poder está guardado para você em Cristo: "Ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (Tiago 4:6). O poder de Cristo se aperfeiçoa na fraqueza (II Coríntios 12:9).

Quanto mais você sente sua fraqueza, mais você desconfia de si mesmo, mais se sente obrigado a olhar para Cristo em tudo e para todas as coisas, mais se manifestará Sua força e Seu nome glorificado em você. Regozije-se sempre; maior é Aquele que está por você do que todos os que estão contra você; maiores são o Pai, o Filho e o Espírito Santo, do que Satanás, o mundo e você mesmo; você será mais do que vencedor por Aquele que o amou. Que benção é saber que Deus é o seu Pai, que o ama com infinito amor e está conduzindo-o com infinita destreza por meio de todas as dificuldades e tentações deste presente mundo mau, para a Sua casa no céu. Lance então toda a sua ansiedade sobre Ele, pois Ele cuida de você. Em tudo, por meio da oração e súplica com ação de graças, faça suas petições conhecidas a Ele, e a paz de Deus que excede todo o entendimento guardará o seu coração e mente por Cristo Jesus (veja Filipenses 4:6-7).


Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe

O que é um Cristão? 10/12 Responsabilidades individuais (Parte 10)



Se, no entanto, o Cristão, quando peca, não confessa a Deus, mas prossegue no seu pecado, o que acontece? Bem, o Pai não pode rejeitá-lo, porque ele é Seu filho, e o Pai o deu a Cristo e, portanto, está empenhado em levá-lo para casa em segurança; pois "aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou" (Romanos 8:30). Ele não pode, portanto, rejeitá-lo, mas, sendo um Deus santo, não pode permitir que prossiga em pecado. Portanto, Ele deve repreendê-lo aqui; "Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo" (I Coríntios 11:31-32). Se somos bastardos e não filhos, então podemos prosseguir aqui sem castigo, porque há o julgamento está para vir; mas se realmente somos filhos, então Ele deve tratar conosco agora, porque, como vimos antes, não entraremos em julgamento para salvação de forma alguma (veja Hebreus 12:5-11; e também João 5:24). 

Que ninguém pense que o pecado em um filho de Deus é uma coisa leve, ou que a correção do Senhor é leve; longe disso. O pecado em um filho de Deus é muito mais terrível do que o pecado no pecador, e não há angústia tão dolorosa na terra como a angústia de um filho verdadeiro, mas rebelde, quando a mão disciplinadora de Deus está quebrando sua vontade teimosa e rebelde. Leitor cristão, apresse-se em julgar a si mesmo para que o Pai amoroso não tenha que tomar Sua vara e castigá-lo. "E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela (Hebreus 12:11). Se, no entanto, meu leitor, você está vivendo descuidadamente, mas sem punição, então trema, pois você deve ser um bastardo e não um filho, e seu julgamento acontecerá no futuro, e você perecerá eternamente, a menos que você logo se converta. Mas leitor, se você é um verdadeiro Cristão e, ainda assim, é alguém que treme com as responsabilidades de sua nova posição, então ouça a voz de Deus dizendo a você: "Não temas"; o que é impossível aos homens é possível a Deus. Todo o poder está guardado para você em Cristo: "Ele dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" (Tiago 4:6). O poder de Cristo se aperfeiçoa na fraqueza (II Coríntios 12:9).

Quanto mais você sente sua fraqueza, mais você desconfia de si mesmo, mais se sente obrigado a olhar para Cristo em tudo e para todas as coisas, mais se manifestará Sua força e Seu nome glorificado em você. Regozije-se sempre; maior é Aquele que está por você do que todos os que estão contra você; maiores são o Pai, o Filho e o Espírito Santo, do que Satanás, o mundo e você mesmo; você será mais do que vencedor por Aquele que o amou. Que benção é saber que Deus é o seu Pai, que o ama com infinito amor e está conduzindo-o com infinita destreza por meio de todas as dificuldades e tentações deste presente mundo mau, para a Sua casa no céu. Lance então toda a sua ansiedade sobre Ele, pois Ele cuida de você. Em tudo, por meio da oração e súplica com ação de graças, faça suas petições conhecidas a Ele, e a paz de Deus que excede todo o entendimento guardará o seu coração e mente por Cristo Jesus (veja Filipenses 4:6-7). 


Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe

O que é um Cristão? 10/12 Responsabilidades individuais (Parte 9)



Se, entretanto, o Cristão peca, ele perde sua filiação ou sua vida eterna? Ele tem deixado de ser o que a palavra de Deus chama de alma perdoada? Não mesmo; pois, como vimos antes, todas essas bênçãos são dadas a ele incondicionalmente e eternamente. O que ele tem perdido então? Bem, ele tem perdido sua alegria e sua comunhão, ou melhor, sua comunhão com o Pai e o Filho foi danificada. O Pai não dará a alegria da Sua companhia a um filho desobediente/levado, e, portanto, quando o pecado ocorre, diretamente a alegria vai embora até que o pecado seja julgado e confessado, mas o relacionamento permanece para sempre.

O único lugar onde o perdão é falado nas Epístolas, como necessário para o Cristão, é em 1 João 1:9, onde não é uma questão de salvação de forma alguma, mas de comunhão, e nos é dito que se confessarmos nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda a injustiça. Ou seja, a alegria da comunhão não pode ser restaurada sem autojulgamento e confissão. E tenha em mente que a confissão do pecado é uma coisa muito mais profunda do que orar por perdão, que geralmente é feito, na verdade, sem nenhum exercício da alma; e quando Deus nos diz para confessar nossos pecados, Ele está dizendo isso mesmo, e não querendo dizer que devemos simplesmente pedir perdão. 

O relacionamento do Cristão como filho de Deus é eterno; sua vida eterna é realmente eterna; seu perdão quanto ao julgamento eterno de Deus também é realmente eterno. Mas, como vimos, ele precisa de perdão cotidiano para manter a comunhão com o Pai, e a maneira de conseguir isso é pela confissão de pecado ou de pecados cometidos. Todo pecado deve ser confessado a Deus. Se cometido individualmente, a confissão deve ser individual. Se cometido corporativamente, a confissão deve ser, se possível, tanto corporativa como individual. Se um homem, assim como Deus, for injustiçado, então deve ser feita a confissão (e restituição quando necessário) ao homem, bem como a Deus (Mateus 5:24). Mas tenha cuidado para não pedir perdão de pecados de maneira geral e confissões de pecado forma geral, pois não há maneira mais certa de amortecer a consciência e endurecer o coração. O diabo gosta muito de ouvir as pessoas se autodenominarem pecadores miseráveis ​​e fazerem confissões gerais, sabendo o quão bem isso serve ao seu propósito. O publicano disse: "Deus tenha misericórdia de mim, pecador", e desceu justificado para sua casa; mas, semanalmente, milhares se consideram pecadores miseráveis ​​de novo e de novo, mas não vão para suas casas justificados; e assim Satanás acalma as almas e as levam para o lado limpo do caminho largo para o inferno, dizendo-lhes o tempo todo que eles não são como o fariseu orgulhoso, mas humildes como o publicano.


Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe

O que é um Cristão? 10/12 Responsabilidades individuais (Parte 8)



Muitos pensam que Romanos 7 nos dá a experiência propriamente cristã e que todo Cristão a encontra como verdadeira para si mesmo, e deve dizer: "não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço". Mas esta não é, de forma alguma, a experiência propriamente cristã, é a experiência de um homem não libertado, ocupado consigo mesmo, debaixo da lei; em contraste com a experiência propriamente cristã, conforme é mostrado no oitavo capítulo dessa Epístola. Observe como no sétimo capítulo tudo é "eu, eu, eu"; enquanto no oitavo capítulo tudo é “o Espírito, o Espírito”. No sétimo capítulo, a alma não libertada está buscando com todas as suas forças guardar a lei, e tudo é só fracasso; no oitavo capítulo, a alma libertada aprendeu que o que a lei não poderia fazer Deus fez, a saber: que a sentença de condenação já foi passada ao velho homem, isto é, ao pecado na carne, e que o Cristão está diante de Deus em Cristo, não mais em Adão; e que o Espírito de Deus que sempre o direciona para Cristo é o poder de uma nova vida, de forma que ele não mais precisa ser derrotado, mas um vencedor.

Leitor, se sua experiência for a que é descrita em Romanos 7, tenha em mente que é a experiência de uma alma em escravidão e não libertada; e não tente se consolar com o pensamento de que isso é o que apenas se deve esperar. Infelizmente, tantos devem ficar satisfeitos com tal estado e estar cheios de si próprios, em vez de estarem cheios de Cristo. A atitude apropriada do Cristão é ocupar-se com Cristo em glória e ser transformado de glória em glória na mesma imagem, contemplando-O (II Coríntios 3:18). 


Tradução do livro "What is a Christian?" de S.L. Jacob (1845-1911). 
Disponível em STEM Publishing: https://www.stempublishing.com/authors/Jacob/Jacob_What_is_Christian.html  Traduzido por André Boechat. andreestudosbiblicos.blogspot.com @andre_boechatfelipe